sexta-feira, 23 de julho de 2010

Adeus Chica, paz à tua alma

A idade não perdoa, ou como agora se diz agora, por causa de DNA(Data de Nascimento Antiga)vai minguando a esperança de vida, até que chega "a cartinha de chamada".
A Chica, a Ousia,que mereceu destaque neste blogue pelo mérito das suas qualidades de galinha poedeira e de mãe adoptiva das franganitas Alunia e Zirga, depois de se ter reformado da sua arte de produzir ovos, foi sendo invadida pelo cansaço e uma estranha e contagiante nostalgia.
Uma estranha melancolia invadiu a capoeira, onde as filhas adoptivas contemplavam com tristeza no olhar o lento definhar da velha Ousia, que de pé e olhos fechados parecia anunciar a a dolorosa vitória da morte sobre a vida.
A pouco e pouco a velha Chica foi-se aconchegando no chão, levantando-se raramente para beber ou debicar sem convicção alguns bagos de milho ou restos de pão demolhado.
Esteve neste estretor até receber a visita dominical do seu querido dono António (o marinheiro engenhocas).
Passados dezoito anos de uma rara amizade António aproximou-se melancólico, com uma lágrima atrevida deslizando no rosto e aquele ser moribundo, ao ouvir a voz amiga ainda teve energia para abrir as pálpebras e olhar para aquele gigante que se baixara para lhe acariciar as ruivas e sedosas penas.
Foi um momento triste mas de rara ternura onde o passado se cruzou num presente efémero, tragicamente sem futuro.
A Chica morreu passado pouco tempo deste diálogo surdo, profundo, sentido...
Nunca imaginei que a morte de uma galinha pudesse ser assim vivenciada por alguns membros da família,nomeadamente por mim e pelo Miguel.
Fizemos o funeral no dia seguinte, numa cova aberta junto da capoeira, à sombra do pinheiro. Não sei se pode ser considerado uma heresia mas uma cruz ficou a assinalar o local onde a Ousia descansa em paz.

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