domingo, 14 de março de 2010

Resposta da Mãe para o filho Miguel

Filho
Estou tão contente
pelo sonho realizado
Filho
A vida é mesmo assim
crescendo todos os dias
Filho
Fica por vezes a saudade
desse tempo de criança
Filho
Serás sempre para mim
eternamente menino
Filho
És um filho muito querido
motivo de grande orgulho
Filho
Sonho em mim gerado
Maior que o pensamento
Filho
O futuro a ti pertence
Reinventa-o todos os dias
Filho
Amor meu infinito
Destino do meu destino

Diálogo entre o Miguel e a Mãe

Mãe
Já não sou semente
crescendo nesse teu ventre
Mãe
Já não sou menino
no teu colo embalado
Mãe
já não sou pequenino
pela tua mão levado
Mãe
Já não sou criança
contigo sempre ao meu lado
Mãe
Já sou crescido
decido o meu dia a dia
Mãe
Já sou adolescente
desejo autonomia
Mãe
já sou um homem
semeando esperança
Mãe
Dá cá um abraço
estarás sempre comigo

Ida à inspecção para a tropa

Tinha eu 20 anos quando fui à inspecção na Vila do Bispo. Ficámos em pelota todos juntos na mesma sala e cada um foi inpeccionado dos pés à cabeça. Depois de sermos inspeccionados, houve uma divisão dos mancebos em três grupos diferentes. No grupo a que pertencia, começámos a olhar uns para os outros sem saber para que estávamos destinados, até que o inspector da Junta começou a explicar a cada grupo qual a razão de estarmos divididos. Chegou a um conjunto e disse: "Estão livres, podem ir para casa."; aproximou-se do segundo grupo e afirmou: "Vocês estão aprovados para ir para o exército". A seguir, virou-se para o meu conjunto, e perguntou-nos: "Querem ir à inspecção para a Marinha?". Olhámos de novo uns para os outros e eu fui um dos primeiros a dizer que desejava ir para a Marinha e os outros seguiram o meu exemplo. Passado um mês, recebemos um aviso para nos apresentarmos em Janeiro no Alfeite com o propósito de sermos novamente inspeccionados. Um aspecto que me deixou um pouco desiludido foi que alguns dos candidatos que vieram comigo no mesmo comboio eram mais robustos que eu e, vendo isso, pensei que seria reprovado. Mal saímos do comboio, dirigimo-nos para o Alfeite e iniciámos a nossa inspecção. Qual não foi o meu espanto ao verificar que alguns que julgava mais aptos que eu, foram excluídos ao passo que eu fui admitido. Por conseguinte, em 1945, comecei a recruta na Escola de Marinheiros, no fim da qual fui seleccionado para a Escola de Mecãnicos a fim de tirar o curso de Grumete-Fogueiro. Passei o exame final, e foi então que iniciei a embarcação nos navios de guerra, onde realizei inúmeras viagens pelo Mundo. Como trazia só a 4ª classe, fui obrigado a tirar o 5º ano do curso Industrial nocturno da Escola Fonseca Benevides, como aluno externo. No entanto, para tirar esse curso, vi-me forçado a frequentar uma escola particular que me preparou para o exame, que realizei com sucesso. Devido á minha diligência, juntei o 3º e o 4º ano num só ano. Por fim, candidatei-me ao exame do 5º ano e obtive aprovação em todas as disciplinas. Daí em diante, ambicionei concorrer ao curso de Artífice/Condutor de Máquinas na Escola de Mecânicos da Marinha. Posteriormente, fui fazer provas de ingresso no curso referido, juntamente com rapazes muito mais novos do que eu, conseguindo também a admissão. Assim, frequentei três anos este curso, no fim do qual fui promovido a Cabo. Seguidamente, embarquei com o objectivo de fazer as horas de navegação necessárias para a promoção a Sargento. Posto isto, segui a minha vida até passar à Reserva. Mais tarde, vieram-me convidar para ingressar na Comiberland/NATO, onde passei 8 anos da minha vida até me reformar.

sábado, 6 de março de 2010

Imagens de família

Ousia e António - Uma história de amor

Era uma vez a galinha poedeira Ousia que tinha um dono António, que a tratava como uma princesa.
Era um regalo ver a Ousia, muito mansinha a passear no quintal, atrás do dono para aqui e para ali, num convívio diário e numa amizade invulgar.
Um amor que durou muitos anos, até que o dono resolveu deixar Odiáxere para vir morar num andar, com a esposa, para perto das filhas, distintas professoras residentes na Quinta da Carcereira, na freguesia da Sobreda.
A separação destes dois seres amorosos gerou uma enorme tristeza nos dois nobres corações. Um mais pequeno a palpitar de nostalgia num peito de galinha e outro com 84 primaveras a pulsar com infinita melancolia.

Foi então que o genro, um semeador de sonhos e inquietações,depois de ter obtido a concordância da sábia esposa, sugeriu que a solitária triste Ousia viesse morar perto dos afectos do António, que por sinal é a figura central deste blogue.

Mas a vida tem os seus caprichos e apesar da proximidade física , Ousia continuava triste por não ter a terna atenção e a regular assistência do grande amor da sua vida.

Surgiu então a ideia de aquisição de dois pintos do sexo feminino, poedeiras como Ousia, apelando aos instintos maternais da mais terna e inteligente galinha da Aldeia Lar.
A vida de Ousia ganhou um outro ânimo e o seu triste gargaregar transformou-se num cântico de estridente alegria, concorrendo com o mavioso trinado dos rouxinois, empoleirados nos altos dos pinheiros que "vestem de verde o nosso olhar".
Com embevecida ternura, sob o olhar atento da mãe adoptiva, os pintos fizeram-se frangas lustrosas e aprenderam as artes de bem pôr e bem cantar na capoeira.
As duas ruivas franganotas, em poucos meses quase não se distinguem da mãe e passaram a exercer com esmerado talento arte de poedeira, que esta lhes ensinou.
Durante um mês, todos os dias três cânticos matinais anunciavam três lindos ovos no ninho da sua vaidade.
Mas porque a idade não perdoa a laboriosa Ousia, depois de muitos anos de postura reformou-se, deixando a Alumia e Zirga a nobre missão de fornecimento diário dos louros ovos, aos familiares a amigos do seu mui nobre e leal António.

sexta-feira, 5 de março de 2010